Sobre a vaidade

A vaidade do ser humano se expressa de várias formas, mas quero discorrer "brevemente" sobre a sua manifestação na aparência das pessoas.
Certa vez indaguei alguém que comprava roupas: "Você quer ficar cada vez mais bonita?", e ela respondeu: "Sim, essa é a idéia!". É fato que as pessoas querem parecer sempre mais bonitas. Vamos analisar o "querer ser bonito" e o "ser bonito".
Por questões didáticas, começo escrevendo sobre o "ser bonito". Alguém já me disse que meu cabelo seria bonito nos anos 60! Na reflexão filosófica, Platão já acreditava que a beleza era um valor absoluto, como a justiça ou o bem. Mas, há poucas décadas, era charmoso para as mulheres ter carne, e há poucos anos já foi bonito ser magra! Já houve a época em que as mulheres faziam luzes em seus cabelos, para parecerem loiras, e houve também a moda do bronzeamento articial para parecerem morenas...A estética bucal atual, pelo menos na américa latina, prega os dentes brancos. Há alguns séculos atrás, já foi bonito pintar o dente de preto, pra fingir cáries que provassem riqueza suficiente para comprar açúcar.
Mas esses são só exemplos que me levam a duvidar da hipótese de Platão. Acho que a beleza segue uma moda, hoje já independente da evolução natural, que nos fazia ser atraídos por quadris largos e seios fartos, por conta da fertilidade feminina. Então, o "ser bonito" passou a ser a adequalção à moda vigente. Assim como o meu cabelo, o que era bonito em uma década pode se tornar feio na outra! Este fenômeno acompanha a opinião dos ditadores da moda, que a opinião pública elege. Ainda assim, a subjetividade do "achar bonito" é onipresente. Eu, como bom engenheiro, acredito que cada indivíduo tenha uma própria função que designa o quão bonita uma pessoa é. Essa função possui os mesmos argumentos para todos, bunda, seios, sorriso, olhar, etc, mas cada um pondera os argumentos diferentemente. O que a moda da estética faz é ditar tendências para os pesos de cada atributo, mas são só médias que guiam a opinião popular.
Falando agora da vaidade proriamente dita, do "querer ser bonito", ela tem também uma explicação evolutiva, sobre a qual eu não me atreveria a discursar. Mas falando do que é bonito hoje, e logo do "querer ser bonito hoje", vejo isso como uma manifestação capitalista da estética. O ser humano quer ser mais bonito que o concorrente, a fim de conquistar os melhores pares. E isso gera um ciclo vicioso, onde se uma mulher coloca silicone, as outras tem que colocar para concorrer. Guardadas as devidas proporções, comparo a situação com a necessidade dos estados de manter um exército. Com a racionalização do ser humano, a necessidade de um exército só é justificada com motivos de se defender das outras nações que também se armam. Se ninguém tivesse exército, ninguém precisaria se defender. Do mesmo modo que se não houvesse exageros pela beleza, diminuiria a necessidade de se preparar para a competição.
Como Sócrates dizia, a beleza é o melhor cartão de visitas. Você pode dispensar uma mulher linda depois de achar ela desinteressante. Mas com uma mulher feia e interessante, você dificilmente trocaria as primeiras frases. A beleza pode camuflar os defeitos de uma pessoa, mas também pode minimizar suas qualidades! Uma pessoa bonita pode ter várias outras qualidades, mas sempre virão em segunda posição: "ela é e bonita e...inteligente, simpática, etc". Já ouvi muitas pessoas dizendo que se arrumam para se sentirem bem - e não para os outros. Mas o fato de essas pessoas não se arrumarem para ficar sozinhas em casa, reforça a hipótese de que elas se arrumam para os outros e, indiretamente, se sentem bem quando os outros as admiram.
Particularmente, eu admiro muito a beleza, que é sem dúvida causa primordial de eu querer interagir como uma desconhecida. Mas por outro lado, eu não cuido da minha aparência. Entre amigos, e na rua, eu faço o mínimo para não ser feio, pra não causar repulsão aos olhos dos outros. Mas não tento ser atraente para o resto do mundo, a não ser quando eu vou pra balada com terceiras intenções.
Finalmente, a aparência, na sua adequação ao padrão vigente, diz muita coisa, ou pelo menos diz coisa suficiente para poder dizer outras coisas e ser ouvido.

Pensamento da hora:
"asdfg"

Abs do Vaps