terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Morte e Lamentação

Outro dia estava gastando meu tempo na TV aberta, quando um desses noticiários sensacionalistas de fim de tarde reportava o assassinato de uma jovem por seu ex-namorado. Até aí, tudo "normal", já que este tipo de crime passa toda semana na televisão, mas fiquei incomodado quando começaram a lamentar a morte da moça. A equipe de reportagem foi ouvir a família, os amigos e os colegas de trabalho. E o discurso deles foi mais ou mesmos assim:

É uma pena... ela era alegre e bonita, gostava dos animais e ia fazer teste pra gerência, trabalhando com muito afinco.

Então pensei: se eu morresse, o que diriam?

Não é uma pena... ele era feio, não se importava muito com a natureza, estava sem trabalhar e gostava disso.

Supondo que alegre e bonita sejam elogios, trabalhodora também seria. Ou seja, ela era uma boa pessoa, por isso é uma pena que tenha morrido. Infelizmente, a lamentação da morte hoje é vinculada ao prejuízo econômico do acontecido. Argumento isso com a citação de sua possível promoção a gerência. A tragédia do assassinato é proporcional ao lucro cessante do morto!
O fato de mencionarem que a menina gostava de animais, ao lado de ser bonita, alegre e trabalhadora, mostra que essa também é hoje uma qualidade do cidadão politicamente correto. Ou é a opinião que a mídia quer mostrar.

É normal lamentarmos mais a morte de uma pessoa boa, mas hoje isso é ser útil economicamente - o que me incomoda.

Pensamento da hora:
"Morre mendigo em São Paulo e é enterrado como indigente."

Abs do Vaps

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa sociedade é amaldiçoada pelo enaltecimento ao trabalho, que bem lá no fundo é bastante ridículo.

Trata-se da moral de escravos derivada do cristianismo e refinada no protestantismo.

É algo bem prático para as classes dirigentes que assim conseguem manter a população feliz por lhes ser úteis.


Por outro lado, ainda é possível fazer uma leitura muito mais branda do ocorrido. Até que ponto esse tipo de lamento não tem a ver com a frustração do sacrifício?

Trabalhava com afinco, deixando de aproveitar tanto por isso...
Ia fazer teste para gerência, após tanto anos de esforço. Já sonhava com o que ganharia e faria, podendo finalmente ser recompensada...

É um outro péssimo hábito das pessoas: viver no futuro.

Eis o padrão que impera nessa sociedade: nos vangloriamos de uma moral do suor que prega o trabalho como meio de realização e deixamos para aproveitar seus frutos em alguma época distante.

É uma pena... mais um ser humano cheio de idéias - algumas boas, outras nem tanto - que não poderá aproveitar, a sua maneira, o dia de amanhã.

Tarsila disse...

Fiquei orgulhosa desse seu post.
Nem tenho intimidade pra te dizer isso, assim. Mas como diz uma amiga: pronto, falei! hehe

Enfim, se esse Leitor Ocioso é quem eu penso...eu realmente não entendo vocês. Falam bonito, mas na prática...principalmente o escritor do comentário.

Se quiserem apagar meus comentários, sintam-se a vontade!

Beijos!