sexta-feira, 6 de março de 2009

Divagações Sobre o Aborto

Essa semana, uma menina de 9 anos, estuprada pelo próprio padatros, abortou a gravidez de gêmeos que arriscava sua vida. Um representante da Igreja Católica então excomungou os envolvidos no procedimento, e o Vaticano concordou.

O aborto, no Brasil, é legal para casos de estupros ou risco de vida à mãe, ambos aplicados ao caso da menina. Para a igreja, no entanto, não há sentido em tirar uma vida para salvar outra - e nesse caso poderiam ser duas vidas para salvar uma...

A questão do aborto tem seu cerne na definição do início de uma vida, o que leva à questão ainda mais problemática da definição de vida. A igreja argumenta que a vida começa na fecundação do óvulo pelo espermatozóide, e logo condena qualquer intervenção após isso como assassinato. Outros dizem que a experiência humana é a vida psíquica, que não começaria em um novo indivíduo antes do desenvolvimento do sistema nervoso, durante a gestação. Para essas pessoas, não haveria problema ético em interromper uma gravidez antes desse desenvolvimento. Para alguns físicos, o conceito de vida está ligado a organismos que mantém ou diminuem sua entropia. Nessa visão, o espermatozóide é vivo, assim como o óvulo e o zigoto, mas esse conceito aparentemente não trata da individualidade e, logo, do começo de uma "nova" vida.

De volta a prática, filhos indesejados podem prejudicar o futuro das mães. À primeira vista, seria natural para mulher realizar um procedimento cirúrgico em seu corpo a fim de melhorar sua qualidade de vida, mas numa constituição onde é proibido até tentar se matar, não somos donos nem do próprio corpo!

Como um filho garante a continuidade da existência dos genes dois pais, estes deveriam estar interessados, mais do que tudo, na vida daquele. Deveriam pela teoria da evolução, mas somos "racionais" para descartar esse imperativo natural e pensar na própria qualidade de vida.

Enfim, o assunto tem tamanha complexidade que não tenho uma opinião formada! Espero seus comentários e coloco uma enquete medir a polêmica.

Pensamento da hora:
"E se Maria tivesse abortado?"

Abs do Vaps

3 comentários:

Anônimo disse...

Não consigo ver essa complexidade toda na questão do aborto. Só parece complexa devido a estarmos em um país católico e a igreja ser contra o procedimento.

A "questão" do aborto é absolutamente simétrica à "questão" da morte cerebral, sendo que ninguém dá bola para esta última.

Se as pessoas tratassem esses dois casos como iguais (qual o critério para se declarar algo "ser humano vivo"), não haveria polêmica.

Um problema sério é a confusão lingüística associada a esse tema. As pessoas associam uma carga emocional desproporcional ao escorregadio termo 'vida'.

A vida, em si, é absolutamente irrelevante do ponto de vista ético. Ninguém fica com peso na consciência de matar um pé de alface, matar as bactérias da água ao fervê-la ou matar algumas células o tempo todo para manter a camada externa de nossa pele.

O que consideramos eticamente relevante é o 'grau de consciência' do organismo.

Embora esse conceito seja ainda mais escorregadio do ponto de vista teórico, na prática trata-se de algo com que lidamos bastante bem no nosso dia-a-dia.

Um exemplo disso é o caso da morte cerebral: todo aquele corpo tem tecido vivo. Muitas vezes o próprio cérebro tem muitas regiões funcionando. No entanto, a atividade cerebral é inferior à de uma pessoa dormindo. Conseqüentemente, poucos vêem impedimento ético de se abrir o corpo, passar o que ainda presta para quem precisa e matar o resto.

Outro exemplo é nosso comportamento alimentar: a maioria das pessoas come carne bovina, alguns não ligariam em comer golfinhos, pouquíssimos se sentiriam eticamente confortáveis comendo macacos e, espero, ninguém clinicamente são comeria humanos em situações não-extremas.

Essa hierarquia demonstra a existência de uma noção intuitiva to tal "grau de consciência". É evidente que onde se põe o limiar a partir do qual matar o organismo se torna algo errado (pois ele é consciente o bastante para esse ato ser errado) varia de uma pessoa para outra (sendo os vegetarianos um caso extremo).

Mas mesmo os vegetarianos, concordariam em matar o coitado do alface, e, acredito, provavelmente a maioria deles não se incomodaria de interromper a vida de uma pessoa cujas capacidades cognitivas se tornaram equivalentes às do infeliz pé de alface. Então qual a questão do aborto?

A verdadeira questão é a estupidez de certos religiosos que insistem espalhar sofrimento pelo mundo ao afirmar que fieis que nada fizeram de errado irão queimar eternamente no inferno.

vaps disse...

Dear Polêmico Ocioso,

Discordo na absoluta simetria entre os casos de morte cerebral e aborto pré-cognição, pelo motivo simples da nossa noção de escoamento de tempo em um sentido. Mas isso é uma limitação humana de fato, e as coisas devem ser simétricas no mundo atemporal das coisas em si.

Outra coisa: acho que o alface na média é mais feliz do que o ser humano!

Abs do Vaps

Tarsila disse...

Por acaso o Polêmico Ocioso é quem eu estou pensando? rs
Tenho minhas dúvidas.

Eu sou a favor do aborto. Sei que a enquete acabou e tal...

Putz, ainda bem que você me livrou dessa e disse finalmente de onde veio toda essa polêmica do aborto.

Estávamos no nordeste, e lá, por opção, nos desligamos do mundo. E eu ficava me perguntando, o que será que aconteceu que tá todo mundo falando sobre aborto?

Gostei do seu post!
Beijos.

ps: admito que é a 1a vez que entro no seu blog. acho que você deve saber o por quê.